Projetar uma casa em Manaus promove um misto de fantasia e desafio. Fantasia porque estamos inseridos em vegetação generosa, exuberante, de florestas misteriosas que resistem à ocupação do homem. Desafio porque precisamos respeitar e entender o clima intenso em chuvas, sol e umidade.
A Nova Casa Moa está inserida em terreno localizado no Condomínio Parque Residências, que abriga casas em sua maioria com grandes planos de telhados. A proposta da casa foi pensada, assim como as casas do renomado arquiteto da Amazônia, Severiano Mario Porto, para permitir generosas áreas sombreadas, oferecendo ventilação cruzada que inunda os ambientes internos, reduzindo a umidade característica da região.
Incentivados pelo proprietário, optamos por solução em estrutura metálica, que nos sugere o benefício de redução do tempo de obra e constrói a linguagem contemporânea desejada, alinhada com a identidade do cliente. Somado às estruturas, o programa de necessidades extenso foi distribuído em dois pavimentos, onde o volume superior se debruça sobre o térreo e cria a volumetria que recebe os moradores na fachada principal.
A estrutura em aço nos ofereceu também a liberdade de grande vão livre na sala, com 14 m de extensão sem apoios. O mezanino, destinado ao lazer, com sala de jogos e cinema além de quarto de hóspedes, é protegido por brises soleil em placas fixas que protegem a casa da insolação do poente. É um grande corredor de ventilação com pé direito duplo que filtra a luz e o calor e constrói o espaço de ligação entre interior e exterior. A paisagem foi emoldurada no mezanino, de onde se pode avistar a mata no fundo do lote e deixar o espírito amazônico adentrar.
A casa se espalha no lote em volta de um pátio interno, que configura espaço de convivência e interliga três grandes volumes: social, serviço e íntimo. Os dois primeiros se conectam diretamente a este espaço aberto, permitindo que tanto living quanto escritório desfrutem do tropicalismo que se deseja nessa paisagem, contraponto das linhas retas da edificação em aço.
O volume térreo dos quartos ficou reservado, discreto em sua relação com o pátio social proposto. Porém, abre-se para a mata, com grandes portas que convidam a natureza para seu interior.
IMPLANTAÇÃO – Configuração da casa em 3 volumes principais em volta de pátio central, que conecta os ambientes de convivência e funciona não apenas como um articulador visual dos espaços, mas também como ferramenta de controle climático que permite a ventilação cruzada dos ambientes internos.
VÃO LIVRE – A estrutura metálica proporcionou um espaço interno livre do estar e jantar, permitindo também que o mezanino fosse pendurado na estrutura da cobertura. O bloco superior, abrigando sala de jogos e cinema, está apoiado pelos dois blocos térreos que comportam de um lado garagem e escritório e de outro as suítes dos moradores. Assim, ficamos com as laterais liberadas, tanto para o pátio quanto para o jardim lateral.
CONFORTO TÉRMICO – Um dos maiores desafios para projetar na região amazônica diz respeito às soluções climáticas. O objetivo foi proporcionar a maior área possível sombreada, permitindo a criação de “corredores” de vento que contribuem para o controle da umidade local. Por isso, o volume superior possui cobertura generosa, que avança sobre o térreo, permitindo também que as portas se abram mesmo em dias de chuva intensa.
Os brises soleil fixos impedem a incidência direta de sol na fachada oeste e ajudam na construção da linguagem contemporânea que desejávamos. Além disso, na fachada leste, permite controle da visibilidade do interior da casa, oferecendo privacidade aos moradores.
O desenho de marcenaria é uma continuidade da linguagem da arquitetura da casa. Acreditar nessa abordagem contribui para a definição das soluções técnicas do projeto, como também para escolhas de revestimentos e acabamentos de marcenaria. Ao contrário do que muitos pensam, o desenho da marcenaria não é apenas uma parte decorativa do projeto, pois a ela estão vinculados aspectos técnicos, como por exemplo, a definição de pontos de alimentação de energia e gás de equipamentos, entrada de água e saída de esgoto. Por isso a importância de se ter à mão todas as informações necessárias no momento do projeto, permitindo que todos esses dados estejam alinhados e transformem-se harmoniosamente em mais um elemento de composição e linguagem arquitetônica, dessa vez, nos espaços internos da edificação.
Na Casa Moa, seguindo a expressão dos ambientes limpos, onde “menos é mais”, optamos por paleta de cores neutra, com desenho que permite o mínimo de interferências de acessórios. Acabamentos brancos em pintura tipo laca ou laminados, com puxadores em perfis embutidos e pedras de cores neutras nas bancadas compõem a linguagem principal para o desenho de interiores.
Cada elemento foi pensado para compor o ambiente de modo funcional, atendendo às necessidades do dia a dia, mas incrementado com um olhar atencioso aos detalhes. A mesa do escritório, por exemplo, recebeu uma calha que permite passagem de fiação com tampas removíveis que ora possuem recorte para servirem e puxador, ora são pequenas bandejas para apoio de lápis, canetas e clips. A suave combinação das cores da marcenaria é complementada pela escolha do acrílico sobre tela em grande formato e pelo calor do couro caramelo da poltrona de leitura.
A entrada na residência é marcada pela adega que tem prateleiras iluminadas ao fundo por lona tensionada e frente em vidro transparente, permitindo que seu usuário possa desfrutar também da vista do jardim e piscina da área externa. Para dar mais amplidão a esse pequeno ambiente, a parede e a porta de acesso receberam espelho, refletindo o painel amadeirado da parede oposta.
Os quartos seguem a mesma linguagem minimalista e todos têm acesso ao jardim dos fundos do lote, com varanda coberta que protegem da forte incidência solar da cidade, bem como permitem a ventilação natural em dias chuvosos. Aqui também os pontos de cor estão nas telas e fotografias, como no lindo ensaio de Bruno Jungmann, ou nas madeiras de poltronas e texturas de tecidos e tapetes.
Destaque para as salas de banho, presentes no térreo e no primeiro pavimento. Em ambas, o maior objetivo foi prolongar a sensação de bem-estar promovida pelo relaxamento. No térreo, a sala de banho apresenta um núcleo com divisórias de vidro onde estão instalados os chuveiros e a banheira, que recebe iluminação zenital. Apenas o trecho central tem alvenaria onde foi instalado porta toalhas com desenho personalizado. Essa peça recebe acabamento no mesmo revestimento da parede, de modo a se camuflar com ela. Também foram exclusivamente desenhados os suportes para shampoo e sabonetes que são encaixados em rasgo na divisória de vidro.
Na sala de banho do primeiro pavimento também foi desenhado um porta toalhas diferente, nesse caso locado no interior da área de banho, que se estende do piso ao teto e traz a comodidade de ter roupão e toalhas ao alcance das mãos. Nas duas salas de banho, o closet está integrado ao ambiente e são inundados pela iluminação natural.
A Casa Moa tem em seu programa de necessidades uma sala de jogos, contemplada com mesa de sinuca e ambiente de home cinema. É um ambiente bastante valorizado pelo morador, tanto para o lazer com os amigos como para descontração no fim de um dia de trabalho. A marcenaria para as peças do jogo de sinuca, como tacos e bolas, cruzeta e triângulo, tudo foi especialmente desenhado para ser de fácil acesso e expressar a linguagem minimalista da casa.
Comentários
Este projeto ainda não tem comentários