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3 características das obras de Frank Lloyd Wright para se inspirar

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02.05.2018
Já pensou em aplicar traços marcantes de um dos maiores arquitetos da História em seus trabalhos? Frank Lloyd Wright foi um dos profissionais da área mais importantes dos Estados Unidos e do mundo. Idealizador de mais de mil projetos, ele deixou um legado revolucionário e criou o conceito de Arquitetura Orgânica, que propõe uma nova relação entre construção e ambiente. Inspire-se agora!
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A influência do arquiteto Frank Lloyd Wright — que nasceu em 1867 e morreu em 1959, aos 92 anos — vai muito além dos Estados Unidos, país em que ele nasceu e atuou, e está enraizada na cultura ocidental. O The New York Times se refere a ele como “criador e espelho do século norte-americano”, em alusão às marcas que ele deixou na arquitetura do país e do mundo.

Para entender melhor a importância do legado de Wright e por que o trabalho dele permanece tão atual, conversamos com o professor doutor Diogo Carvalho, do departamento de Arquitetura e Urbanismo da PUC Minas. Um dos aspectos que ele aborda na tese de doutorado, defendida na Universidade Federal de Minas Gerais, é justamente a obra do arquiteto norte-americano.

Neste artigo, você vai compreender os conceitos por trás da obra de Wright e aprender como três características do trabalho dele podem inspirar os seus próprios projetos!

Por que Frank Lloyd Wright continua relevante?

Há quem diga que Frank Lloyd Wright sempre esteve destinado a se tornar um arquiteto marcante. A mãe dele, de origem galesa, incentivou a inteligência espacial do filho desde cedo. Quando pequeno, seu quarto era decorado com estampas de diversas construções e ela o presenteava com estruturas de blocos para montar (os Froebel Gifts, invenção de um pedagogo alemão do século XVIII).

O professor Diogo Carvalho conta que os ideais democráticos de Anna Lloyd, mãe de Wright, foram sendo absorvidos pelo arquiteto já na infância. Eles são percebidos em todo o trabalho do norte-americano e na repulsa que ele sentia pelos rumos racionalistas que as cidades vinham tomando entre os séculos XIX e XX.

“Ele não gostava dos pressupostos que balizavam a construção daquelas cidades, que não eram de uma concepção fundamentalmente democrática”, conta Diogo. Sobre a o horizonte de Nova York, Wright chegou a dizer em uma entrevista: “Ele nunca foi planejado — é uma corrida por aluguel, e acho que é um grande monumento ao poder do dinheiro e da ganância”. Apesar disso, Wright contribuiu para o horizonte da metrópole com o Museu Guggenheim, concluído poucos meses após sua morte, em 1959.

Mais de meio século após a morte, Frank Lloyd permanece uma das maiores referências da arquitetura mundial

Ele desejava cidades mais harmônicas e chegou a projetar o que seria o arranha-céu mais alto de Chicago, o Illinois, que somaria cerca de 1,6km de altura. Em conformidade com os ideais naturalistas, segundo ele o edifício seria uma construção “enraizada”, com uma estrutura profundamente fincada sob a terra.

Os grande prédios não eram estranhos ao norte-americano. A carreira de arquiteto de Wright começou no escritório de Louis Sullivan, o “pai dos arranha-céus de Chicago”. Ele trabalhou para o célebre arquiteto durante seis anos, parte deles em troca de um empréstimo para construir a casa em que viveu com a primeira esposa.

O convívio com Sullivan — que terminou em conflito, quando o chefe descobriu que o protégé vinha fechando outros negócios por conta própria — foi fundamental para o amadurecimento de uma das maiores contribuições de Frank Lloyd Wright: a Arquitetura Orgânica.

A Arquitetura Orgânica

“Wright cria um sistema de Arquitetura Orgânica, também conhecida como Integral ou Natural, que não necessariamente tem a ver com uma arquitetura cheia de curvas”, explica Diogo. “Ela é orgânica no sentido de ‘organismo’, de coisa viva”, acrescenta.

A Arquitetura Orgânica é um modo de pensar as construções como parte integrante do ambiente, e não algo que foi simplesmente incluído nele. Diogo detalha: “A ideia de Arquitetura Orgânica tem base na natureza, de que qualquer coisa nela, qualquer ser vivo, é do meio. Qualquer coisa estranha ao meio que é colocada lá não sobrevive. Ou ela se adapta e passa a trabalhar dentro das complexidades daquele meio ou não sobrevive”.

Um dos exemplos mais fundamentais desse modo de pensar a arquitetura é a Casa da Cascata, na Pensilvânia. O projeto, finalizado em 1939 para o executivo Edgar Kaufmann, foi construído sobre um curso d’água, que ele integra à estrutura de pedra e concreto armado.

Diogo esclarece: “Uma casa de Wright não está construída na colina, ela é da colina, ela precisa fazer parte da colina, do meio em que é materializada”. Por isso, é difícil perceber um padrão estético entre os projetos e fases de Wright, segundo o professor. E complementa:

“Você não vai encontrar uma sequência de padrões nos edifícios dele. Ele vai trabalhar com o terreno que tem disponível, com a vegetação do lugar, e equacionar com isso as diversas questões que envolvem o projeto — a demanda e os desejos do cliente, a atmosfera que o cliente quer sentir no lugar, a sensação que ele quer”.

A Casa da Cascata, na Pensilvânia, resume bem a organicidade da obra de Wright: é como se fosse parte da colina

Três aspectos inspiradores do trabalho do arquiteto

1. Valorização dos ornamentos

Embora tenham apelo comercial, os arranha-céus de Louis Sullivan são famosos pelo cuidado com os ornamentos. “Ele foi um dos maiores ornamentalistas dos Estados Unidos, e essa tradição ornamental vai ser passada ao Frank Lloyd”, diz Diogo. “Há um conceito, criado pelo Frank Lloyd, de ‘ornamento integral’. O ornamento não é algo aplicado à arquitetura, é algo que pertence à arquitetura. É diferente da decoração, é algo intrínseco ao espaço”.

A ornamentação cuidadosa está presente em todas as fases do trabalho de Wright, mas Diogo destaca um exemplo em que ela se torna mais evidente: a aplicação de textile blocks nas casas que o norte-americano projetou na Califórnia.

Os textile blocks são blocos de concreto com desenhos e orifícios que formam padrões, quando colocados lado a lado. Uma das obras do arquiteto em que estão em maior evidência é a La Miniatura — erguida em 1923 e oficialmente chamada Millard House. A construção, em Pasadena, é inspirada na arquitetura maia, admirada por Wright.

Na arquitetura contemporânea, esse cuidado com o material e com o ornamento integrado à estrutura encontra correlação nos cobogós mais elaborados, por exemplo.

La Miniatura, a construção em textiles block, tem um aspecto imponente meio à natureza de Pasadena

2. Preocupação com as texturas

Diogo observa que as texturas e padrões são uma tendência forte para os revestimentos. O tema já foi assunto aqui no blog, e o professor reforça como é interessante para projetos contemporâneos.

“Hoje, existem porcelanatos com os mais diferentes padrões. Quando você combina diversas peças em um piso, em uma parede, cria um padrão. Wright trabalha bastante piso, parede e teto com o mesmo material. Isso pode dar um efeito interessante quando se trabalha com porcelanato que vai subindo pela parede ou até criando um ambiente imersivo — uma sauna com porcelanato que se assemelha a madeira, por exemplo”.

Além disso, Diogo pondera que o porcelanato não precisa estar sozinho, e lembra que o próprio Wright “trabalha com a junção, o encontro, a combinação dos materiais”.

Lloyd não apreciava o caos das cidades, mas construiu nelas também. É o autor do Museu Guggenheim, em NYC

3. Cuidado com a ambientação

Para Diogo, “como você gostaria de morar?” é uma pergunta essencial que o arquiteto precisa fazer ao cliente antes de entregar um projeto. É a resposta desse questionamento que deve guiar a obra.

Provavelmente, Frank Lloyd Wright concordaria. Segundo o professor, o arquiteto sempre teve uma preocupação muito grande com a ambientação dos espaços que construía, seja na parte interna ou externa.

“A natureza trabalha de forma fundamentalmente harmônica”, esclarece o professor. “É tudo uma questão de equilíbrio, de relação entre as coisas. Isso se materializa no interior das residências de Wright. Nelas, você consegue percorrer as espacialidades, de cômodo a cômodo, de maneira não só livre, mas fácil e integrada”. E completa:

“Ele consegue trabalhar a funcionalidade da arquitetura sem precisar fazer uma arquitetura funcionalista. Com o tempo, com a experiência dele, Wright fez uma arquitetura mais dinâmica, descentralizada, que não trabalha propriamente com simetria, mas, ao mesmo tempo, consegue trabalhar a hierarquia dos espaços. Ele trabalha bem a separação entre os espaços de convívio, de trabalho, de relaxamento”.

Frank Lloyd Wright era um colecionador e negociante de arte japonesa, e a arquitetura asiática tem profunda influência sobre o trabalho dele, como conta um artigo do The Economist.

Diogo concorda: “Você vai encontrar elementos da arquitetura oriental em diversas obras — trabalho com biombos, painéis nas paredes e trabalho com vidro nas janelas (…) Vale a pena destacar a influência de outras culturas na nossa arquitetura e no nosso design. Ela é positiva e Frank Lloyd a via com bons olhos”.

Gostou de descobrir mais sobre a vida e a obra de Frank Lloyd Wright? Conheça outros arquitetos inspiradores! Que tal começar com os artigos sobre Le CorbusierLina Bo Bardi e Zaha Hadid?

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