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Casas estreitas em Amsterdã, capital da Holanda (Foto: Ernestovdp)

Arquitetura holandesa: inspiração para o mundo em três eras

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06.08.2021
Passado, presente e futuro se encontram na arquitetura holandesa, que tirou o país do mar e o trouxe à vista do mundo inteiro. Conheça!
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Deus fez o mundo, mas os holandeses fizeram a Holanda. Essa frase patriota revela o trabalho que o povo neerlandês teve para construir edificações no país, que fica parcialmente abaixo do nível do mar. Mas a arquitetura holandesa não é apenas funcional: conta com características únicas, que embelezam e influenciam o planeta.

Inclusive, ela é tão rica que impactou até mesmo a arquitetura brasileira. Por isso, vale a pena entender o contexto e desenvolvimento do estilo construtivo dos Países Baixos. Continue a leitura deste artigo para ficar por dentro!

História da arquitetura holandesa

A arquitetura holandesa tem três marcos históricos que a projetam no cenário internacional:

  • o século XVII, a era de ouro da coroa holandesa; 
  • a primeira metade do século XX, com o surgimento do modernismo
  • a era contemporânea, em que o país usa a tecnologia para alimentar o planeta. 

Século XVII 

Prefeitura de Amsterdã, construída em 1665
Prefeitura de Amsterdã, construída em 1665 (Foto: Robert Scarth

A Holanda é o país com a maior densidade populacional, ou seja, a maior quantidade de habitantes por metro quadrado da União Europeia. Historicamente, isso ajudou a desenvolver e diversificar a arquitetura local. 

Durante o auge da coroa, as cidades se expandiram muito. Neste período, a região virou uma potência comercial por conta das navegações — então, o governo aproveitou para investir bastante em arquitetura e urbanismo.

Foi no século XVII que a coroa colocou em prática projetos ambiciosos de planejamento urbano, como os canais de Amsterdã. As ruas e praças mais importantes começam a ser pavimentadas e os arquitetos locais ficaram conhecidos. A burguesia se orgulhava da beleza de suas cidades. 

A arquitetura holandesa passou por todas as fases arquitetônicas da Europa e, concomitantemente, influenciou de maneira significativa os segmentos habitacional e industrial do continente. 

Modernismo 

Durante o século XX, os arquitetos holandeses desempenharam um papel importante no desenvolvimento da arquitetura modernista. 

A partir da arquitetura racionalista de Hendrik Petrus Berlage, grupos distintos se desenvolveram ao longo da década de 1920, cada um com sua própria visão sobre a direção a ser seguida.

Arquitetos expressionistas, como Michel de Klerk e Piet Kramer, eram associados a Amsterdã. Outro grupo consistia em profissionais mais funcionalistas, como Mart Stam, Leendert van der Vlugt e Johannes Duiker. 

Uma reação de 1918 à arquitetura funcionalista holandesa foi a escola tradicionalista, que durou até bem depois de 1945. 

Atualidade 

Estufa de flores na Holanda
Estufa de flores na Holanda (Foto: Heins, IJ.Th.

A Holanda é o segundo maior exportador de produtos agrícolas — perde somente para os Estados Unidos, um país com território 237 vezes mais extenso.

O segredo para fornecer tantos alimentos ao mundo é o investimento em sustentabilidade e tecnologia na agricultura, principalmente em estufas. 

O país tem hectares e hectares cobertos — são, aproximadamente, 93 km² de estufas mescladas na paisagem, intercalando cidades. 

Dentro dessas gigantescas estruturas de vidro, são utilizados sistemas hidropônicos (cultivo de plantas que não necessita de solo) e energia geotérmica (obtida a partir do calor proveniente do interior da Terra) para otimizar recursos. 

Inclusive, as estufas holandesas conseguem utilizar apenas 1,1 galão de água por 4,5 kg de tomate produzido, sendo que a média mundial é de 25,6 galões. 

Graças a esses recursos, agricultores podem produzir mais de 100 milhões de tomates por ano a partir de 14 hectares. 

Características e principais obras da arquitetura holandesa

A Town Hall de Gouda, construída em 1450 no estilo gótico
A Town Hall de Gouda, construída em 1450 no estilo gótico (Foto: Zairon

Não há um estilo definido de arquitetura holandesa justamente pelo país ter passado por muitas fases durante seu desenvolvimento. No entanto, o gótico foi o que mais marcou a história da Holanda.

Nesse sentido, uma das características marcantes foi a capacidade de reinterpretar a experiência estrangeira.

Da arquitetura italiana, por exemplo, foram adotadas principalmente elementos visuais, como pilares, pilastras, frontões e rusticação. 

Um fato curioso é que muitos arquitetos holandeses não conseguiam ler as fundamentações teóricas, muitas vezes escritas em italiano ou latim.  

Outra aplicação comum na arquitetura holandesa, particularmente em Amsterdã, era a empena escalonada, que deveria esconder as linhas diagonais da empena atrás das linhas retas da fachada. 

Confira, a seguir, algumas obras importantes.

Canais de Amsterdã 

Os canais de Amsterdã formam um "cinturão" ao redor da cidade (Foto: 1345Thevideo

Dividida em 12 províncias, boa parte da Holanda fica abaixo do nível do mar. Seu nome oficial, Países Baixos, indica isso (Netherlands vem de Nederlanden, que significa, literalmente, “terras baixas” na língua local). Sua arquitetura quase se resume a "empurrar" ou drenar a água.

Os canais marcam toda a arquitetura holandesa, principalmente a capital. Há 165 deles apenas em Amsterdã, o que acabou rendendo à cidade o apelido de Veneza do Norte. Todos foram feitos com muito planejamento, incluindo os mais antigos. 

Vimos que o país viveu sua era de ouro durante o século XVII. A Holanda, já populosa, recebia também imigrantes, que chegavam pelas navegações. A região portuária de Amsterdã estava em expansão e, com isso, a coroa viu a necessidade de transformar o local irregular e pantanoso. 

O plano era drenar e nivelar o terreno, além de facilitar o acesso ao seu interior para escoar a água e transportar mercadorias. Um dos canais, chamado Singelgracht, servia também como uma defesa para a cidade. 

Mapa dos canais de Amsterdã, em 1662
Mapa dos canais de Amsterdã, em 1662 (Imagem: Daniël Stalpaert

Além do Singelgracht, foram construídos mais três, todos em formato de meio-círculo: Keizersgracht ou Canal do Imperador; Prinsengracht ou Canal do Príncipe; e Herengracht ou Canal dos Patrícios. 

Esses ajudavam no desenvolvimento residencial. Eles formam um cinturão concêntrico ao redor da cidade, conhecido como Grachtengordel, que termina na Baía de Amsterdã. 

Durante a era de ouro, muitos comerciantes ricos construíram suas residências ao longo desses canais. Geralmente, essas casas eram estreitas e tinham fachadas ornamentadas que se adequavam ao seu novo status. 

Cortados pelo Rio Amstel, os canais de Amsterdã são interconectados por canais secundários, que se cruzam diametralmente. Com o passar do tempo, outros foram construídos, totalizando mais de 100 km de comprimento, 1000 pontes e 1500 monumentos. 

Em 2010, os canais de Amsterdã foram incluídos na lista de Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). 

Moinhos 

Os moinhos são instalações construídas para fragmentar ou pulverizar materiais brutos, como grãos e cereais. 

No caso da Holanda, um moinho de vento usa a energia eólica para drenar a água das terras baixas de volta para os rios. Assim como a tulipa, se tornou um símbolo do país mundo afora, embora não seja uma invenção local. 

No século XIV, a Holanda começou a construir diques — afinal, 50% do país fica a menos de 1 m acima do nível do mar. 

Já no século XVIII, o uso de moinhos foi direcionado para drenar o solo, enquanto os diques passaram a proteger os moradores das inundações. 

Atualmente, há mais de 1000 espalhados por todo o território neerlandês, mas não apenas para a drenagem e moagem. Os moinhos se tornaram atrações turísticas, abrigam museus e servem até como residências. 

Parque Kinderdijk 

Os moinhos alinhados do parque Kinderdijk
Os moinhos alinhados do parque Kinderdijk (Foto: Skitterphoto

Mais uma obra da arquitetura holandesa considerada Patrimônio Mundial pela Unesco, o parque Kinderdijk é parada obrigatória para turistas. 

Com 19 moinhos que serviam para escoar a água da região, o parque se situa em Kinderdijk, uma pequena cidade na província de Molenwaard, na Holanda do Sul, à beira do Rio Maas. 

Os moinhos do local são os mais antigos do país. Eles estão alinhados e agrupados em duas fileiras, que são separadas por um canal. Alguns deles podem ser visitados. 

O interessante é que eles funcionam (e resistem!) desde 1740. Atualmente, o controle das águas é feito por meio de um sistema de diques, represas, canais e bombas de alta tecnologia. 

Arquitetura holandesa no Brasil 

arquitetura holandesa
Recife Antigo carrega cores, características e o estreitamento típicos da arquitetura holandesa (Foto: Thiago japyassu, de Pexels)

A arquitetura holandesa também influenciou fortemente a nordestina — especificamente Recife, sede do período holandês no Brasil. A chegada de Maurício de Nassau, em 26 de janeiro de 1637, no porto da capital pernambucana, impactou os costumes e, claro, as construções locais.

Nassau era representante do governo holandês, mas, na verdade, era alemão. Seu tempo em Recife foi tão prolífico que, até hoje, há quem acredite que a colonização neerlandesa seria muito mais benéfica do que a portuguesa. 

Alguns dos seus feitos foram:  

  • construiu jardim botânico, zoológico e observatório astronômico; 
  • documentou a paisagem local pela primeira vez; 
  • ergueu a primeira ponte da América Latina; 
  • permitiu a liberdade de culto religioso;
  • fez a remodelagem urbana de Recife.
A Primeira Sinagoga das Américas, na Rua do Bom Jesus, atraiu milhares de judeus sefarditas
A Primeira Sinagoga das Américas, na Rua do Bom Jesus, atraiu milhares de judeus sefarditas (Foto: Márcio Cabral de Moura

Outra mudança de Nassau foi dividir a cidade em um núcleo urbano, o Porto e a Cidade Maurícia — desenvolvida pelo arquiteto Pieter Post para ser sede do governo e local de residência. Atualmente, correspondem aos bairros de Santo Antônio e São José, respectivamente. 

Nassau trouxe engenheiros e arquitetos, investindo fortemente no desenvolvimento local, principalmente em saneamento básico. Neste período, a cidade recebeu muitos intelectuais, turistas e comerciantes. No entanto, a forte oposição dos portugueses resultou na insurreição pernambucana, que expulsou os holandeses do Nordeste. 

A inspiração arquitetônica para a disposição e o formato de prédios estreitos, além do traçado das ruas, as cores e os formatos de residências permanecem. 

arquitetura holandesa
Holambra (SP), cidade das flores, é a junção de Holanda, América e Brasil, devido à colônia neerlandesa que se firmou na região (Foto: Tania Parejo por Pixabay)

A arquitetura holandesa serviu para erguer o país (que poderia ter sido engolido pelo mar) e, hoje, alimenta pessoas no planeta inteiro. 

Como vimos, também influenciou as construções recifenses. Conheça agora um pouco mais sobre a arquitetura nordestina!

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