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Yes, nós temos Mola

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17.10.2017
Fenômeno mundial de crowdfunding (financiamento coletivo online) incentiva estudo espacial de projetos de Arquitetura e Engenharia. Estamos falando do Mola, modelo brasileiro interativo e sensorial, que simula o comportamento de estruturas. Confira a entrevista exclusiva com o idealizador.
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Ferramentas como maquetes eletrônicas, aplicativos de realidade aumentada, óculos de realidade virtual para visualizar projetos em 3D, e outras soluções digitais surgem a cada dia para facilitar e ampliar os negócios empresarias, sobretudo a vida de profissionais da arquitetura, engenharia e design. Mas como andam as invenções táteis para facilitar o trabalho desses profissionais? Como mensurar, na prática, os fenômenos físicos para executar edificações?

Para responder essas e outras questões relacionadas, o Archtrends Portobello convidou o arquiteto de Belém, capital do Pará, Marcio Sequeira de Oliveira, reconhecido internacionalmente por ter criado o projeto Mola, produto de simulação de sistemas estruturais. Ele lançou neste mês de outubro o seu e-commerce com todas as informações sobre seus produtos que está dando o que falar nas  principais universidades de Arquitetura e Engenharia do Brasil e do mundo.

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Foto: Luiza de Castro

Como surgiu a ideia de criar um produto para estudar o comportamento das estruturas arquitetônicas?

O ensino de estrutura nas escolas de arquitetura e engenharia no Brasil e no mundo é muito abstrato, com muito cálculo e teoria. A ideia surgiu a partir dessa problemática, pela dificuldade de tatear e ver aquilo que se aprendia apenas na teoria sobre os fenômenos físicos das estruturas. E esse conhecimento é extremamente necessário para os profissionais da engenharia e arquitetura, especialmente na fase de concepção de projeto.

O processo de criação do Mola fez referência a algum produto já lançado?

Não. Antes do Mola, comecei a utilizar peças de madeira para simular uma estrutura de uma disciplina que estava fazendo na faculdade de Arquitetura, em 2005. A partir disso comecei a produzir peças mais flexíveis, com molas - daí, claro, o nome do produto -  para que eu pudesse ver melhor as deformações e deslocamentos das estruturas, que normalmente você não vê em uma estrutura real.

Foram 10 anos de pesquisa para desenvolver esse projeto tão benéfico para o estudo das construções. A ideia é aperfeiçoar com novas peças para sempre possibilitar a montagem de sistemas estruturais diferentes.

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Arquivo Mola

Que tipos de estruturas arquitetônicas podem ser estudadas?

Então, nossa proposta é uma simulação imediata para entender fenômenos físicos de forma mais clara sobre qualquer tipo de estrutura arquitetônica, simples a complexa, seja de madeira, de concreto, aço. Exemplo:  toda estrutura se deforma e se movimenta. Só que a gente não vê. Se acontecer uma carga de vento muito forte em um prédio, por exemplo, o Mola consegue indicar de forma fiel o que irá acontecer com essa estrutura antes da construção e até após a sua conclusão.

O produto veio para facilitar a análise qualitativa de uma obra de que forma?

A gente não avalia resistência das peças, apenas seu comportamento, gerando uma análise qualitativa, precisa e inicial de uma obra que não existia até então. Exemplo: no Mola, quando você aplica uma carga na viga, ela se deforma de vários jeitos. E quando você consegue visualizar os fenômenos, para saber se as barras ficarão comprimidas, tracionadas, fica mais fácil na hora de fazer os cálculos para dimensionamento das peças, escolhas de materiais e analisar outras complexidades para começar a construir uma obra e deixá-la de pé, estável, sem perigos. Sendo assim, o Mola não substitui nenhuma etapa dos processos necessários de cálculo para execução de uma obra.

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Arquivo Mola

Como esse instrumento pode facilitar a demonstração de projetos a clientes?

Ele pode ser utilizado na hora da concepção de um projeto em escritórios de arquitetura e engenharia, inclusive demonstrando as características do processo ao cliente, de forma simples e rápida. O arquiteto está montando um projeto e com o Mola pode saber na prática e em tempo real se é possível reerguer estrutura sem haver o perigo de desmoronamento, se a forma estética ficará interessante, claro, questões analisadas antes de elaborar os cálculos para iniciar a execução da obra de casas, edifícios, pontes, torres, por exemplo. Além disso, o Mola também veio para facilitar a comunicação entre os profissionais de engenharia e arquitetura para se discutir sobre um projeto.

Qual a comparação com as maquetes arquitetônicas?

Indicamos no manual soluções para projetos com treliças espaciais, já que é uma estrutura difícil de imaginar sem ver ou manusear um protótipo. Porém, a função do Mola, simulação de sistemas estruturais, é totalmente diferente de uma maquete, sendo esta uma representação de um edifício acabado ou para definir volumetria, por exemplo, ou para mostrar ainda como será a estética do projeto após a conclusão da obra ao cliente.

Por que o Mola ganhou repercussão internacional?

O Mola é um projeto inédito no mundo. Com o lançamento  do Mola1, em 2014, o projeto teve apoio de 30 países, através do site de financiamento coletivo, Catarse. No segundo lançamento, o Mola2 contou com o apoio de 35 países diferentes e somado às vendas o produto já foi distribuído para mais de 60 países. Até agora, ao todo, são 5 mil kits entregues a vários profissionais e interessados no mundo e no Brasil. E o projeto vem ganhando cada vez mais repercussão nacional principalmente em universidades para serem utilizados por professores e alunos em salas de aula. Inclusive, já existem universidades utilizando o kit para fazer competições com o Mola. No exterior, o contato com as universidades é constante também, a exemplo do curso de Engenharia do MIT - Massachusetts Institute of Technology, que há dois meses utiliza o Mola para estudo entre os alunos, e entretenimento com crianças da comunidade durante período de férias.

Entretenimento manual e lúdica para outros públicos. Um brincadeira de nerd?

Há um público que não é profissional, englobando criança, adultos e idosos, que gosta de montar peças, pois é uma experiência lúdica, similar a brincadeira de um Lego, que estimula a inteligência espacial. A exemplo do público infantil já citado, o MIT estimulou as crianças a se interessarem pelo curso de Engenharia através do Mola. Com certeza, muitos interessados querem se entreter ou criar competições em universidades. É a união do prazer com a ciência.

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A ciência por trás do Mola (Foto: arquivo Mola)

Estrutura manual versus digital. O mundo ainda dá lugar às invenções táteis?

Todas essas ferramentas tecnológicas de simulações virtuais são importantes para ajudar a desenvolver um projeto. Mas elas não substituem um modelo físico, tátil e real. Então a compreensão do comportamento espacial de uma estrutura é muito difícil de mostrar virtualmente. Uma deve ser complementar da outra. O mercado ainda valoriza as invenções físicas pela sua necessidade científica. Tudo que é criado para a evolução das construções é superválido.

De uma pesquisa universitária à comercialização em grande escala, idealizador torna-se um CEO. Como estão os negócios?

Tornei-me empreendedor a partir de um apoio de mais de 1.500 pessoas no mundo todo. A primeira campanha de financiamento coletivo foi realizada em 2014 para o Mola 1, com a ideia de desenvolver uma tiragem-piloto. Mas o sucesso foi tão grande, que se tornou a maior campanha de financiamento do tipo realizado no Brasil na época, com arrecadação de R$600 mil. Com isso, o Mola passou a ser o motivo para comercialização em grande escala e gerar grandes negócios, além de ajudar a melhorar o produto com novas peças e acabamentos e ter a possibilidade de contratação de profissionais para o marketing e produção de manual. Para o Mola 2, foi arrecadado R$700 mil reais. A campanha de financiamento coletivo terminou. Os kits agora estão disponíveis para compra direta através do site lançado este mês.

Conheça mais sobre o projeto assistindo ao vídeo abaixo, publicado durante a campanha do Catarse.

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Millena Ramos
Colunista
Jornalista

Jornalista colaboradora do Archtrends, formada pela UFAL. Pós-graduada em Língua Portuguesa pela Academia Alagoana...

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