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Exposição Andy Warhol: Revelation no Brooklyn Museum (Arquivo Pedro Andrade)

O mundo de Warhol

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Expressionismo Bizantino e ojeriza pela homofobia. Esse sentimento paradoxal fez parte de toda a vida de Andy Warhol e é o tema de uma nova exposição no Brooklyn Museum.
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Minha paixão por Nova York nunca foi segredo. Costumo dizer que a Capital do Mundo vivia em mim muito antes de eu viver nela. Quando era moleque, adorava filmes de Woody Allen, a música emblemática de Billy Joe, a arquitetura do Empire State Building e, é claro, as obras de Andy Warhol.

Para ouvir o artigo completo, clique no play abaixo:

Andy Warhol (Foto: David LaChapelle)

Poucos artistas, ao longo de suas carreiras, foram capazes de representar a essência de New York City de maneira tão certeira quanto Warhol. 

Nascido em Pittsburgh, em 1928, em uma família de imigrantes do Leste Europeu, Andrew Warhola sempre foi o favorito de três irmãos. Sua mãe, Julia, muito religiosa, o obrigava a ir à igreja pelo menos quatro vezes por semana. Ali nasceu sua paixão pelo Expressionismo Bizantino e sua ojeriza pela homofobia. Esse sentimento paradoxal fez parte de toda sua vida e é o tema de uma nova exposição no Brooklyn Museum.

Wilhelmina Ross, um dos vários retratos de Andy Warhol com mulheres trans

Observando o legado do artista, é fácil ignorar seu fascínio pelo Cristianismo, no entanto, a partir do momento em que a gente tem essa informação, seu trabalho assume outro significado. Um de seus quadros mais icônicos é o portrait de Marilyn Monroe. A inspiração por trás da obra é a paleta de cores e o posicionamento de protagonistas em trabalhos de temática católica. Se em catedrais e museus admiramos representações de figuras bíblicas centralizadas numa tela dourada, nas mãos dele, as celebridades mereciam o mesmo tratamento. Em vez dos 12 apóstolos, o gênio está mais interessado em pintar Elizabeth Taylor, Michael Jackson, Mick Jagger, Muhammad Ali, O.J. Simpson, Mao Tsé-Tung e o nosso Pelé.

Warhol sempre enxergou a fama como uma ferramenta de adoração semelhante ao tipo de idolatria que vemos em diferentes religiões. Jesus Cristo, ao seu ver, foi o maior popstar de todos os tempos.

Portrait de Marilyn Monroe

Apesar de ter tido uma infância difícil por ser um aluno tímido e afeminado em uma escola ultraconservadora, em casa ele sempre encontrou apoio para exercer sua grande paixão, que era desenhar. Seus pais o matricularam em uma aula de desenho básico quando tinha 12 anos e, mais tarde, fizeram questão de pagar sua faculdade de artes plásticas. Depois de sua formatura, Andy realizou o sonho de se mudar para Nova York. Em pouco tempo conseguiu um emprego na revista Glamour e, posteriormente, na Interview – naquela época uma das publicações mais respeitadas do país. 

A partir do momento em que conseguiu ganhar um pouco mais de dinheiro, Warhol descobriu uma nova obsessão: a vida noturna. O Studio 54 virou sua segunda casa e nesses bares, boates e restaurantes, Andy conheceu outros virtuosos como Keith Haring, Jean-Michel Basquiat, Patti Smith, Robert Mapplethorpe, Roy Lichtenstein e Liza Minelli. 

Retratar aqueles que faziam parte de seu grupo de amizades virou um hábito que ele cultivou a vida toda. Muitas dessas obras estão presentes em outra mostra dedicada aos seus portraits no Fotografia – atores, músicos, grandes líderes, modelos, atletas, socialites e drag queens. Muito antes do Instagram, do Facebook ou do Twitter, o visionário já entendia a política do “falem bem ou mal, mas falem de mim”. Aos olhos dele, quase toda publicidade era boa. 

Digo quase porque, por incrível que pareça, um dos momentos mais traumáticos de sua vida aconteceu exatamente por conta da obsessão cega de uma fã incondicional. Valerie Solanas considerava Warhol seu maior ídolo; um dia, entrou no elevador de seu atelier e deu um tiro na barriga do artista. A loucura nem sempre funciona a nosso favor. 

Apesar de ter sobrevivido ao atentado, naquele dia tudo mudou. Andy tinha medo de sair na rua, ficava mais em casa, passou a retratar tragédias e perdeu muito do humor, da segurança e da irreverência que o tornou um dos maiores mitos do século XX.

Mesmo tendo como inspiração um segmento superficial da nossa sociedade, Warhol sempre ruminou questões existenciais. Seu fascínio pelo universo LGBTQ e a rejeição da Igreja Católica geraram uma personalidade cheia de conflitos e contradições. Por incrível que pareça, mesmo sendo uma figura celebrada desde a adolescência, Andy só teve um relacionamento amoroso sério na vida. Aos 51 anos conheceu Jon Good, um empresário da indústria cinematográfica 20 anos mais jovem que ele. Infelizmente, 6 anos depois, Jon foi uma das milhares de vítimas da epidemia da AIDS.

A essa altura do campeonato – decepcionado e emocionalmente exausto – Warhol passou a questionar a própria fé. Aos 58 anos de idade, no dia 22 de Fevereiro de 1987, um dos artistas mais visionários de todos os tempos, faleceu por conta de uma complicação cardíaca durante uma cirurgia de vesícula, mas não sem antes decretar que “o objetivo não é viver para sempre, mas sim, criar algo que viva”. Missão cumprida. 

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  1. Oi Pedro! UAU, seus textos são sempre sensacionais! Adoro seu jeito de escrever, você é um “cara” muito talentoso. Desejo um 2022 maravilhoso para você e muita sorte na vida.

  2. Fui na exposicao dele no Whitney Museum, maravilhosa! Adoro seus textos e aprendo um pouco mais atraves do seu olhar em tantos assuntos! Bjs

  3. Gostei do seu texto. Também gosto muito do Andy Warhol. Visitei duas vezes o museu dele em Pittsburgh. Vale muito a pena a visita.

Pedro Andrade
Colunista
Colunista

Vivendo em Nova York há 21 anos, o jornalista e apresentador carioca, Pedro Andrade,...

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