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Novos HORIZONTES

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06.05.2021
Tudo me inspira para possíveis novas coleções... cores, sabores, texturas, relevos e vozes. Novas possibilidades, novas interpretações e, no final das contas, novos HORIZONTES.
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Eu sempre acreditei que o lugar onde a gente mora deve contar a nossa história. Ao longo da minha vida, já morei em muitos apartamentos diferentes, mas todos, de um jeito ou de outro, capturavam a minha essência. 

Antes de ser jornalista, apresentador ou autor, me considero um contador de histórias. Ainda que – para sorte daqueles ao meu redor – não precise compartilhá-las constantemente, desde pequeno olho para o mundo com interesse e curiosidade. 

Estudei no Colégio Santo Agostinho, no Rio de Janeiro, por muito tempo e nunca vou esquecer do dia em que fui chamado à sala do Frei João (diretor da escola na época) porque alguns professores haviam dito que eu “perguntava demais”. Ao longo do Ensino Fundamental, fiquei de recuperação em duas matérias: Educação Física – uma verdadeira tortura para mim – e Religião. A segunda tinha tudo a ver com indagações como “Como Deus fez o planeta em sete dias?”, “De que maneira Moisés abriu o Mar Vermelho?” e “Me explica essa história de transformar água em vinho”. Eu nasci com fome de informação e enquanto meus colegas jogavam futebol, eu lia.

Meu pai me apresentou uma série de quadrinhos belga chamada As Aventuras de Tintim. Criada no início do século passado, a coleção relata as experiências de um jovem repórter que viaja o mundo com uma câmera fotográfica no pescoço. Da China ao Egito, de Botswana à França, o desbravador pulava de país em país conhecendo personagens fascinantes e explorando os mistérios da vida. Soa familiar? 

Essas publicações ficavam numa estante no apartamento da minha avó em Copacabana. Meus pais eram muito jovens quando nasci. Se não me engano, tinham 21 ou 22 anos de idade. Ambos trabalhavam e, por isso, volta e meia eu e meu irmão ficávamos com nossos avós. A decoração nunca foi um primor, no entanto, olhando para as paredes da casa, era fácil entender um pouco mais sobre a trajetória dos dois. Minha avó era maranhense, meu avô nasceu em Natal e juntos moraram em Brasília. Viajavam compulsivamente, eram religiosos, adoravam arte nordestina, gostavam de cozinhar e tinham um prazer ímpar em reunir os parentes… Inclusive aqueles que se detestavam. Isso tudo estava presente nos quadros, nas louças, nos tapetes, nos livros, nas cortinas e em cada item escolhido para cada cômodo. 

Hoje, décadas depois, olho para o meu apartamento e vejo que o mesmo pode ser dito sobre mim. Minha escrivaninha foi comprada numa loja de antiguidades em Beacon quando visitei um museu no norte do estado de NY, o quadro pendurado sobre minha cama foi pintado pelo meu pai, minha mãe me deu o jogo americano que mais uso, as xícaras de café eu trouxe do Irã, minha bicicleta ergométrica foi adquirida no início da pandemia, em cima da minha impressora fica um relógio de bolso que era do meu avô, minha obra de arte favorita é uma imagem feita por um dos meus melhores amigos, André Cunha (ao meu ver, o fotógrafo mais genial da atualidade) e, meu maior vício: livros de arte. De Bresson a Sebastião Salgado, de Basquiat a Picasso, de Jeff Koons a John Singer Sargent, de Louise Bourgeois a Delacroix, de Winogrand a Keith Haring… esses estão por toda parte. 

Quando não estou em casa, estou pelo mundo. Não é novidade para ninguém que muitos dos meus projetos requerem que eu viaje. Isso não aconteceu por acaso. Cada passo que dei até hoje foi com a intenção de um dia poder me sustentar fazendo o que mais amo na vida. Missão cumprida. 

Desenvolvimento da nova linha Horizontes

Apesar de dizer com orgulho que nas últimas décadas tive a oportunidade de viver uma vida cheia de aventuras, por incrível que pareça, uma das perguntas que mais ouço é: “O que você traz das suas viagens?”. A verdade é que não há descanso em projetos como esses. O avião aterrissa no destino, a gente grava, grava, grava, cochila, grava, grava, come, grava, grava, toma banho, grava e vai embora. É sem dúvidas o melhor emprego do mundo, no entanto, há uma ilusão de que vivo de férias. A realidade é bem diferente. Com isso dito, tento sempre trazer algo que tenha um valor simbólico para mim. Olho ao meu redor e vejo uma escultura que comprei em Malta, uma máscara que trouxe da Tanzânia, um crucifixo de Lalibela, uma bússola omani, um patuá libanês, um Buda do Camboja, um amuleto peruano, vários presentes recebidos pelas comunidades indígenas que visitei recentemente na Amazônia e assim por diante. Me cercar desses objetos é uma maneira de preservar minha história, de cristalizar minha jornada.

A verdade é que, ao contrário do que muitos dizem, objetos têm, sim, um valor singular em nossas vidas. Eles têm que ter. Somos cercados constantemente por esses bens e, de certa forma, eles representam aquilo que a gente viu, aqueles que a gente amou, os lugares por onde passamos e nossas aspirações. Eles nos lembram dos momentos preciosos, dolorosos e transformadores que marcaram nossa existência. Eles dão um significado palpável à nossa trajetória e, traduzem de uma maneira tangível quem a gente é. 

As texturas da nova coleção de revestimentos de Pedro Andrade

Por essas e outras, encho a boca para dizer que criar uma coleção de revestimentos que vai habitar a casa de centenas de pessoas é um dos projetos mais gratificantes da minha vida. 

Quando propus essa ideia para a Portobello, sabia que a materialização desse sonho demandaria uma análise introspectiva intensa. Como elaborar algo versátil o suficiente para agradar às massas, porém, que carregue meu DNA de forma verdadeira e autêntica. 

HORIZONTES
Processo criativo na Portobello

Desde o início do meu casamento com a marca, devorei livros, assisti a documentários, entrevistei arquitetos e passei a visitar destinos com um olhar muito mais minucioso. O piso de um lobby de hotel não é apenas o chão do lugar, a vinícola de um restaurante não é meramente um armazém de garrafas, o layout de uma loja tem um efeito incontestável naquilo que a gente decide comprar e os revestimentos de uma casa impactam fisicamente, mentalmente e emocionalmente a maneira como a gente vive. 

Como inspiração, escolhi cinco lugares que, em alguns aspectos, mudaram minha vida. Traduzir uma experiência visceral para uma peça decorativa é mais complexo do que parece. Sou um perfeccionista nato e não aceito fazer nada pela metade. O objetivo desde o início foi traduzir a história de Jaipur, a poesia de Santorini, a paz de Zanzibar, a natureza de Tulum e a energia de Nova York para uma linha de revestimentos. As referências usadas eram tão ricas, que para cada cidade desenvolvemos três relevos – alguns mais simples, outros mais ousados. 

Sou alérgico a obviedades e, exatamente por isso, me recuso a apresentar programas de turismo. Nada contra outros profissionais que exercem essa função brilhantemente, mas, na grande maioria dos casos, a fórmula me parece previsível. Sempre quis explorar o aspecto cultural, orgânico e humano de cada lugar. Esse projeto não é diferente. Ainda que focado no universo da arquitetura, minhas inspirações passavam pela arte, pela gastronomia, pela história e pela sensação de estar em cada um desses destinos. 

HORIZONTES
Linha Horizontes, versão Tulum, cocriação Pedro Andrade e Portobello

Há décadas, a Portobello é referência absoluta no segmento de design, no entanto, eu não estava preparado para a competência e generosidade com as quais o time da marca acolheu minhas ideias. Em plena pandemia, nos reuníamos com frequência e a cada conference-call eles me surpreendiam mais. Amo trabalhar em equipe e, durante esse processo de criação, me vi crescendo, aprendendo e efetivamente melhorando a cada conversa. Ao meu ver, se você é a pessoa mais talentosa na sala, você está na sala errada. 

Linha Horizontes, versão Zanzibar

Mesmo tendo a exata noção do privilégio que essa experiência tem sido e do orgulho que tenho do resultado final da minha primeira – de muitas, espero – coleção, tenho certeza de que a melhor parte do trajeto ainda está por vir. É difícil descrever o entusiasmo que sinto ao pensar em cada ambiente que contará com essas peças. 

HORIZONTES
Linha Horizontes, versão New York

Fico lisonjeado toda vez que alguém me para na rua ou escreve um comentário nas minhas redes sociais mencionando o impacto que meus programas de TV tiveram na vida dessa pessoa. Apesar de ainda não ser pai, imagino o quão gratificante deve ser criar um filho para o mundo e analisar esse equilíbrio entre o que vem de dentro da gente e aquilo que nasce por influência externa (não me refiro ao aspecto biológico mas, sim, emocional). Sem querer poetizar, mas já poetizando, é isso o que sinto nesse momento: uma ansiedade saudável em ver o que essas peças, cheias de significado para mim, vão virar nas mãos dos arquitetos, decoradores e consumidores que por algum motivo se identificaram com o produto. 

Linha Horizontes, versão Santorini

Graças a essa empreitada, hoje encaro o mundo com um olhar ainda mais analítico que antes. Tudo me inspira para possíveis novas coleções… cores, sabores, texturas, relevos e vozes. Novas possibilidades, novas interpretações e, no final das contas, novos HORIZONTES.

Linha Horizontes, versão Jaipur

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  1. Amei seu trabalho. Limpo, leve, bonito e simples (no melhor sentido) muito bom mesmo. Parabéns !!! Os comentários sobre sua vida também adorei. Sobre o Frei João, meu irmão teve experiência semelhante e minha mãe foi chamada ao colégio para explicar o comportamento dele, que era também muito irrequieto e perguntador – nossa mãe era judia e pai católico – ele não entendia porque o Frei Heliodoro, dizia que quem não era batizado não poderia entrar no céu (sendo assim, nossa mãe não poderia entrar e teria que ficar separada). Enfim, obrigada por compartilhar. Abraço

  2. Pedro você é genial. Nossa Casa (onde quer que morenos) representa o micro cosmos. Concordo e penso assim. Parabéns por este fantástico conceito e maneira de comunicar.
    Respeito e admiração.
    MARIA LUIZA KUHN

  3. Que texto inspirador. As fotos que eu vi.da sua coleção são lindas. Parabéns pelo trabalho e entusiasmo.

  4. Pedro(desculpe, mas me sinto como um amigo, da família…), mesmo afirmando no texto ainda não ter realizado o desejo de ser pai, saiba que aprendi e me espelho muito tal qual um filho(apesar da minha idade..), em todas as tuas experiências profissionais, ensinamentos e o conhecimento que denota com os três amigos da bancada do Manhattan Connection, há anos presente em minha vida. Parabéns por mais este lindo e inspirador trabalho! Obrigado por responder juntamente aos três mosqueteiros a maioria dos meus questionamentos, tesouros de conhecimento que guardarei pela vida toda, assim como um filho guarda as melhores e às vezes também as mais duras lembranças… Parece um pecado perante esta pandemia, mas sinto como uma perda irreparável não os ver juntos toda a semana! Assim como todo filho, uma hora temos que sair de casa, mas a família, mesmo de uma forma distinta… vai sempre continuar… e nos ensinar…
    Obrigado por nos orgulhar como brasileiro e acima de tudo, como ser humano! Parabéns Portobello!

  5. Este “moço” e um fenômeno. E estiloso sem saber, clássico, bonito, fino, bem educado, culto, interessante, bem informado e humilde sem ser chato….vai longe….e ainda viajado, excelente apresentador, escreve bem, enfim….um sucesso. Saúde, amor, realizações e paz. Maria Thereza

  6. Belas peças e belas palavras. A essência dos lugares só pode ser captada quando nos inserimos neles.

  7. Parabéns e sucesso Pedro !!
    Fomos em casa episódio Líbano temos amigo de lá..já começamos planejar viagem …obrigada

  8. Pedro menino talento. Que linda a apresentação desse belo produto. Sabendo quem voce é, tenho certeza que muitas outras maravilhas virão por aí. Parabéns e muito sucesso. Bj

  9. Olá Pedro…!!!
    Adorei seu blog, tem tudo a ver comigo, arte,fotográfica e suas descoberta por esse mundão dos Deuses.
    Carinho…. ✌✌

  10. Cara! Show de bola! Muito bonito ver sua evolução desde quando conheci vc pelo Manhattan Connection já há um tempão!

  11. Te admiro muito, além de ser uma pessoa inteligente, culta, com uma visão particular dos lugares bem bacana, que eu amo ver em Pedro Pelo Mundo, é bonito demais.
    Sucesso, a coleção está linda.

  12. Parabéns Pedro! Adoro ver seus comentários enquanto vc anda.
    Você sabe encantar.
    Projeto maravilhoso que sem dúvida nenhuma será um sucesso.

  13. Que lindo texto sobreis objetos que fazem parte da nossa vida! Que você tenha novas aventuras e experiências para nos contar. Sucesso!

  14. Texto maravilhoso!!
    Sensível, carinhoso e com muito amor !!
    Amei !! Parabéns e mais sucesso !!!
    Você merece. Bj Flávia Ferreira Sá

Pedro Andrade
Colunista
Colunista

Vivendo em Nova York há 21 anos, o jornalista e apresentador carioca, Pedro Andrade,...

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