13.06.2022
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Fazenda Canuanã (Projeto: Marcelo Rosenbaum e Aleph Zero)

A incrível Fazenda Canuanã, projeto de Rosenbaum e Aleph Zero

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13.06.2022
Gerar pertencimento foi o desafio lançado para Marcelo Rosenbaum, designer convidado pela Fundação Bradesco para fazer a escola internato um lar para seus alunos
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A arquitetura premiada da Fazenda Canuanã foi um dos temas do Archtrends Podcast com Marcelo Rosenbaum. No bate-papo com a equipe do Archtrends, o designer contou a história por trás da obra. Imaginamos que os ouvintes ficariam com vontade de ver as fotos e saber ainda mais sobre esse incrível projeto. Para assistir o conteúdo completo desta conversa você pode acessar este link.

Para ouvir o artigo completo, clique no play abaixo:

A Fazenda Canuanã fica em um local remoto, no município de Formoso do Araguaia, no Tocantins. É lá que está localizado o Projeto Moradas Infantis, que abriga cerca de 50 crianças, como escola e moradia. O projeto é mantido há 40 anos pela Fundação Bradesco, que convidou Rosenbaum para levar aos alunos mais conforto e qualidade de vida.

vista aérea da Fazenda Canuanã
O Projeto Moradas Infantis Canuanã é mantido pela Fundação Bradesco há 40 anos (Foto: Cristobal Palma)

O desafio foi aceito. Para repensar a estrutura e criar uma nova moradia, Rosenbaum teve como parceiros os arquitetos do escritório Aleph Zero, o corpo pedagógico da Fundação Bradesco e as crianças do Projeto Moradas Infantis.

Quem vive na Fazenda Canuanã chega aos sete anos e vai embora quando já está prestes a completar a maioridade. São filhos de indígenas e caboclos moradores na zona rural do centro-oeste brasileiro. O formato de internato é uma necessidade pela distância que existe entre as aldeias. Por esse motivo, as crianças chegam na Fazenda Canuanã e permanecem durante cerca de uma década.

Eles são mais do que alunos, são uma comunidade que vive naquela estrutura e ali aprendem, convivem, fazem as refeições, dormem, têm os momentos de lazer e visitam as famílias em alguns dias do mês – algumas só nos feriados prolongados.

pátio do Moradas Infantis Canuanã
O designer Marcelo Rosenbaum convidou as crianças que vivem no internato para transformar o espaço em uma casa para elas (Foto: Leonardo Finotti)

Uma estrutura como essa não poderia ter aspecto apenas de escola e dormitório, como era até aquele momento. O espaço precisava gerar pertencimento, acolhimento, proteção e ensinar muito mais do que o alfabeto e os números. O desafio era transformar todo esse lugar em um lar, resgatar histórias e memórias.

Ninguém melhor do que Rosenbaum, especialista em entender a cultura local, para assumir esse projeto. A primeira providência dos responsáveis pelo projeto foi ouvir das crianças o que era mais importante naquele lugar, o que tornaria a Fazenda Canuanã uma casa de fato.

Crianças descansam em um dos ambientes
Espaços de convivência e lazer agora fazem parte da rotina das crianças (Foto: Leonardo Finotti)

Os envolvidos no projeto, então, ouviram as crianças e registraram o que era indispensável para que elas se sentissem acolhidas. E foram mais longe. Visitaram as casas das famílias, conheceram as pessoas que são as referências culturais dessas crianças e jovens. Descobriram que muitas ainda vivem em casas de barro e com recursos que a mata oferece. Foi com essa imersão que os principais elementos da nova morada passaram a ganhar formas, cores e texturas.

Móveis do quarto que abriga as crianças da escola
São duas vilas com 45 quartos, que comportam até seis crianças cada (Foto: Leonardo Finotti)

A escolha dos materiais da construção e a implantação do projeto levam em consideração toda a rotina dos alunos e seus afazeres. A utilização da madeira laminada e colada, que é o principal material da estrutura, foi a matéria prima mais adequada para a obra, em função da sua localização, custos e sustentabilidade. Utilizada desta forma, ela oferece a possibilidade de aplicar peças de grandes dimensões, inclusive com curvas e formas orgânicas.

Sala de estudos com mesa amarela
Materiais locais, design e arquitetura levaram conforto para estudar e viver (Foto: Leonardo Finotti)

Outros materiais que fazem parte da cultura dos povos indígenas, e tem tudo a ver com seus moradores, são os tijolos de adobe e as palhas trançadas. Durante a obra, uma fábrica desses tijolos foi criada na propriedade. Eles chegaram a ter uma produção de quatro mil unidades por dia. Foram aproveitados os saberes populares para gerar insumos e ainda mais memórias no projeto.

O projeto, que tem 23.344 m² de área construída, em um terreno de 60.000 m², começou em 2015 e foi concluído em 2017.

Vista lateral de toda estrutura do Projeto Moradas Infantis Canuanã
A grande estrutura de madeira, combinada com telhas metálicas e piso de cimento, proporcionam ao projeto o conforto térmico necessário (Foto: Leonardo Finotti)

A nova moradia oferece dois espaços residenciais, um destinado para as meninas e outro para os meninos. Essas vilas são compostas por 45 quartos que comportam até seis crianças por unidade. Antes eles dormiam em grandes alojamentos. 

Elas estão organizadas ao redor de três pátios com áreas verdes que contemplam a vegetação local e luz natural. Esses respiros entre a estrutura recriam através do paisagismo o clima do encontro entre Cerrado, Amazônia e Pantanal, conectando as crianças com a biodiversidade do Tocantins. 

Paisagismo com vegetação local no pátio da escola
Os blocos de quartos, salas de estudo e lazer são entremeados por três pátios com paisagismo criado com vegetação local (Foto: Leonardo Finotti)

A grande cobertura, feita com telha metálica sanduíche e apoiada por diversos pilares, foi idealizada de forma inclinada e oferece isolamento térmico, protege os espaços de quartos, as áreas de convivência e de estudo.

Outros ambientes também fazem parte da Morada Canuanã: um mini palco de teatro, sala de televisão e refeitórios. Tudo criado junto com as crianças.

Detalhes da arquitetura especialmente projetada para o espaço
Tijolos utilizados na construção foram produzidos na escola, com técnica das famílias da região (Foto: Leonardo Finotti)

Os tijolos foram aplicados de forma desencontrada para criar espaços de ventilação. Esses elementos vazados permitem que a luz chegue e o vento circule. Durante a noite, quando as luzes internas são acesas, elas se transformam em grandes luminárias. 

Paredes com tijolos vazados permitem a circulação de ar
Detalhes contribuem para tornar a vida das crianças da Fazenda Canuanã um lar (Foto: Cristobal Palma)

Outro elemento estrutural que respeita as particularidades do lugar é o piso, feito em cimento. Essa escolha simboliza o entendimento da qualidade de preservação de calor com objetivo de manter o espaço interno mais fresco, protegendo do calor que vem de fora.

Marcelo Rosenbaum, o designer que leva a cultura e as experiências para os projetos (Foto: Archtrends)

Como é possível perceber, tudo foi muito bem pensado, planejado e executado, para orgulho do designer. “O processo de cocriação com as crianças foi o mais importante. Ele ficou exatamente como foi sonhado, esse valor para mim é muito forte”, afirma Rosenbaum.

Detalhes da estrutura feita em madeira
Os escritórios Rosenbaum e Aleph Zero foram responsáveis pelo projeto Fazenda Canuanã (Foto: Cristobal Palma)

Em 2018, o projeto Fazenda Canuanã foi o vencedor do prêmio internacional Riba – Royal Institute of British Architects, um dos mais importantes prêmios de arquitetura do mundo. Uma coroação para o belíssimo projeto de design, arquitetura e pertencimento, desenvolvido para tornar melhor a vida de mais de 500 crianças e adolescentes no coração do país.

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  1. Que projeto maravilhoso inovador! como gostaria de poder oferecer as crianças de Pedra de Guaratiba um ambiente dece,o meu sonho é ter um espaço aonde eu pudesse oferecer amor e aprendisado a crianças menos favorecida. Ja tenho um terreno de 300m mais nâo tenho recursos para construção.

  2. Na idade moderna, bancos são o lado bandido da sociedade. Compram políticos, apoiam golpes de estado e se enchem de dinheiro que vem dos juros, politicamente negociados.
    Vi um comentário sobre essa escola num livro do Eduardo Bueno e vim conferir. Me encantei com o projeto, bato palmas e peço bis, muitos bases.
    Legal pro Bradesco, lembrei do Ademar de Barros (roubo mas faço) quem sabe um dia apoia um governo sensível nessa área, que poderia multiplicar o projeto, e fazer do acesso à educação um caminho para todos.

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