O design que reconecta
Reconexão do ser humano com sua natureza. Essa seria uma boa síntese dessa semana de design de Milão, conclusão a que chegamos depois de várias discussões com o grupo de pesquisa Portobello sobre a essência das exposições, instalações e afins.
Não saímos os mesmos após ficarmos face a face com nossas fragilidades, sermos obrigados a desacelerar e observarmos mais atentamente nossos ambientes nos últimos dois anos. A pandemia nos tirou do modo automático, desligando abruptamente vários padrões da tomada. A casa se tornou protagonista, já que foi nosso refúgio mais frequente, a tecnologia se humanizou, já que era o único meio de nos relacionarmos, e a natureza se fez necessária, já que nos lembramos que fazemos parte dela.
E, apesar dos dias (e meses, e anos) muito duros, não perdemos a capacidade de sonhar e de sermos otimistas, fato que se reflete pelas ruas e galerias de Milão.
Os designers trabalharam e criaram para servir outros seres humanos – o conforto e a funcionalidade destacaram-se nas novas coleções. Formas naturalmente orgânicas que convidam ao abraço decretaram que as linhas retas e ortogonais não são mais dominantes. Tecidos e superfícies sensoriais pedem para serem tocados e expressam mais o handmade do que os processos industriais.
Transparências em materiais, estruturas e processos sinalizam que há um diálogo entre o design e as pessoas. Essa conversa é explícita, as palavras se fazem presente com objetividade nos storytellings.
As cores da natureza compõem o cenário da semana, fazendo do verde o tom mais presente. Azuis, amarelos e vermelhos acompanham, mas a terra e suas infinitas tonalidades é que trazem a personalidade da cartela contemporânea. Do ocre ao laranja, do terracotta ao marsala, a terra é generosa ao colorir o design.
A tecnologia cumpriu seu papel de inovação, mas conquistou mimetizando gestos e modos humanos. Histórias com leveza e poesia contadas nas mais diversas e modernas formas de projeções, robôs que recebem os convidados com olhares e perfumes e balés sincronizados deixaram claro que a tecnologia sempre avança, mas, agora, com um charme a mais.
E, por fim, acho que é o fim do minimalismo extremo. O otimismo, a energia e a criatividade necessárias para expressar o novo precisam de mais elementos, mais cor, mais diversidade e mais ousadia. E, assim, o minimalismo dá lugar a algo mais irreverente, sempre com muita elegância. Novos tempos, novos e melhores tempos, e o design nos conduz nessa reconexão.