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Casa na Areia, Aires Mateus, 2010

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28.09.2017
Enquanto a arquitetura moderna tenta se afastar do conceito da casa primitiva, a obra dos irmãos portugueses resgata exatamente sua essência. Um hotel, com cara de casa de férias, torna possível fincar os pés no chão, ou melhor, na areia. Quer saber mais? Confira as análises de Gabriel Kogan abaixo!
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AIRES_MATEUS_CASA_AREIA
As construções, de concreto branco e palha e madeira, ao longe (Foto: Nelson Garrido)

Entrar na Casa na Areia – projetada em 2010 pelos irmãos portugueses Manuel e Francisco Aires Mateus – é mais do que literalmente colocar o pé na areia, é também vivenciar a metamorfose da cabana ancestral em arquitetura contemporânea.

A cabana contemporânea dos irmãos portugueses
A construção em palha e madeira (Foto: Aires Mateus ©)

Desde a Antiguidade, a arquitetura buscou se afastar da imagem arquetípica da casa primitiva construída com galhos e peles sobre solo compactado, sofisticando as construções com novos materiais e camadas.

A imagem da terra batida remete às habitações rurais – feitas sem projeto e sem desenho; raros arquitetos se propuseram a prolongar solos naturais em direção ao abrigo coberto.

São exceções, por exemplo, a Sinagoga Portuguesa de Amsterdam – projetada por Elias Bouwman em 1671 –, com suas finas camadas de areia recobrindo o assoalho de madeira para atenuar o som dos passos e absorver a sujeira dos sapatos; ou a Casa Tanikawa – do arquiteto japonês Kazuo Shinohara, de 1974 –, onde a terra inclinada invade a sala envidraçada, sem distinção entre o material do piso interno e da floresta.

A construção em concreto branco
A construção em concreto branco (Foto: Aires Mateus ©)

Localizada em Comporta, Portugal, a casa dos Aires Mateus, justamente ao retirar o piso e expor a terra do solo, recupera a imagem primitiva da casa, que a arquitetura tentou esquecer nos últimos séculos.

Concebida como um refúgio privado de férias para o cliente e família, hoje a casa se transformou em um pequeno hotel de quatro quartos, locados em construções separadas – duas de madeira e palha e duas de concreto branco.

O areal conecta os pequenos casebres e invade a sala de estar e a cozinha. Não há, portanto, qualquer distinção de piso entre a praia e a área coletiva da residência. Manuel Aires Mateus brinca que “se derrubarmos uma taça de vinho no chão” bastaria “meter uma pá e jogar o piso fora”.

A continuidade da areia da praia dentro dos cômodos da casa
A continuidade da areia da praia dentro dos cômodos da casa (Foto: Aires Mateus ©)

A experiência de morada em lugar isolado – próximo da natureza – ganha contornos desafiadores para modos de vida urbanos convencionais. Constrói-se aqui uma nova relação com o tempo e o piso de areia causa uma desaceleração. A inércia dos movimentos, assim como o atrito dos pés com o chão, retarda acontecimentos e a agilidade de ações. Para o cliente, João Rodrigues, o piso obriga a pessoa a se acalmar; na areia, tudo demora mais: "É uma casa de férias onde nós gostaríamos de nos desligar daquele ritmo da cidade”.

Casa na Areia
O contraste entre a construção de madeira e palha e a de concreto branco (Foto: Aires Mateus ©)

Outras duas relações com o tempo mediaram o projeto. A casa dialoga com a raiz da arquitetura popular histórica da região em seus materiais e simplicidade da planta. Por outro lado, o projeto subverte a relação dos moradores locais com as horas do dia: por passarem a maior parte do tempo de trabalho sob o sol, a casa tradicional busca se esconder da luz natural; já os turistas esperam o oposto, impondo à arquitetura contemporânea diferente orientação das fachadas e maiores janelas.

Casa na Areia
Detalhes da madeira e da palha (Foto: Nelson Garrido)

Os arquitetos, ao trazerem para a contemporaneidade a atmosfera ancestral e tradicional, incorporam tecnologias e confortos da vida moderna à cabana. Sob a própria areia, há uma base de concreto onde passa aquecimento para o piso: no inverno, um areal aquecido.

Além de nos propor uma reflexão sobre as dimensões do tempo no cotidiano, a Casa na Areia evoca questões sobre o essencial do modo de vida contemporâneo. Quais seriam as comodidades atuais das quais não abriríamos mão? Que elementos das casas tradicionais e primitivas poderíamos trazer para nossa morada? Como o espaço poderia modificar nossa relação com o tempo?

Casa na Areia
A sala de estar com o chão de areia (Foto: Nelson Garrido)
Casa na Areia
A sala de jantar se une à cozinha (Foto: Nelson Garrido)
O corredor da construção em concreto branco
O corredor da construção em concreto branco (Foto: Nelson Garrido)
O quarto da parte da construção em concreto
O quarto da parte da construção em concreto (Foto: Nelson Garrido)
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Gabriel Kogan
Colunista
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Arquiteto e crítico, formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de...

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