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Arquitetura x Mercado: inovar é impreciso

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06.11.2017
Em tempos de startups, gadgets e internet das coisas, escritórios de arquitetura vivem um momento sublime para repensar antigos modelos de gestão e uso de novos materiais, e assim influenciarem clientes a ter novas atitudes para a evolução arquitetônica.
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A cada dia surge a novidade que vai mudar o mundo. O mais novo smartphone, um app imprescindível ou formas diferentes de consumir conteúdo e aprendizado. Na arquitetura não é diferente, com a chegada do BIM e demais softwares de gestão e especificação. Nesse tempo de inovação constante, novos materiais e formas de repensar antigos métodos também surgem, mas o quanto disso realmente absorvemos na prática?

Em termos de resistência e durabilidade, o concreto translúcido pode ser ​considerado​ equivalente ao concreto convencional. Foto: Divulgação Litracon
Em termos de resistência e durabilidade, o concreto translúcido pode ser ​considerado​ equivalente ao concreto convencional. Foto: Divulgação Litracon

Cito dois exemplos recentes, mas com resultados antagônicos, o Concreto Translúcido e os Fotovoltaicos Orgânicos. O primeiro, com alto impacto visual e tecnicamente eficiente, praticamente inexiste no Brasil. Já o segundo, transformou uma startup brasileira em líder global de produção em larga escala nesse segmento, à frente de Alemanha, Japão, Coreia do Sul e Reino Unido. Trata-se de um filme leve, flexível, com até 50% de translucidez, que, no lugar de minerais ou compostos tóxicos, utiliza materiais orgânicos, sintetizados em laboratórios. Conta ainda com processo produtivo escalonável e de baixo custo.

Mas por que praticamente não ouvimos nada a respeito do Concreto Translúcido – moldado com fibras ópticas internas, que permitem a transmissão de luz natural ou artificial em elementos arquitetônicos –, que à primeira vista parece uma joia rara para fomentar a criatividade dos arquitetos? Há o desconhecimento e o conservadorismo dos arquitetos brasileiros, e a consequente falta de demanda, apesar de sua produção ser bastante simples. O elevado custo das fibras ópticas no Brasil é sem dúvida um fator impeditivo, mas falta, principalmente, aposta da indústria aliada à insistência dos projetistas em encontrar caminhos para o uso do material.

Edifício Sêneca, primeiro a receber a tecnologia de filmes fotovoltaicos orgânicos. Foto: Divulgação Totvs
Arquitetura x Mercado: edifício Sêneca, primeiro a receber a tecnologia de filmes fotovoltaicos orgânicos. Foto: Divulgação Totvs

Outro exemplo contemporâneo que também gera polêmica entre arquitetos: a possibilidade da construção com impressão 3D. De início, a classe se entusiasmou e apostou nas pequenas construções, como casas, abrigos temporários, trailers e mobiliário urbano. Hoje, uma economista de vinte e poucos anos, Anielle Guedes, causa arrepios na alta hierarquia arquitetônica ao promover, como CEO da startup Urban 3D, a construção de edificações populares, com quatro ou cinco andares, em poucas semanas e a um custo até 80% menor do que os sistemas construtivos atuais. Está em desenvolvimento um produto químico, facilmente formatável via impressoras, que em tese substituirá o concreto e poderá criar módulos que vão de pavimentos e vigas, até paredes. Apesar de ter discursado e sido aplaudida na ONU, arquitetos ainda torcem o nariz para a ideia, que visa uma drástica ruptura nos processos de projetos para habitações de interesse social.

Coube ao arquiteto Arthur Casas o projeto da casa N.O.V.A. (Nós Vivemos o Amanhã), a partir de mais de 4 mil inputs recolhidos por meio de crowsourcing. Imagem: Divulgação Arthur Casas / Enel Brasil
Arquitetura x Mercado: coube ao arquiteto Arthur Casas o projeto da casa N.O.V.A. (Nós Vivemos o Amanhã), a partir de mais de 4 mil inputs recolhidos por meio de crowsourcing. Imagem: Divulgação Arthur Casas / Enel Brasil

Diversas iniciativas como essas requerem o enfrentamento de velhos padrões. A arquitetura paramétrica e a biomimética, ainda pouco difundidas, a internet das coisas, que caminha a passos largos para se tornar a internet dos espaços, na qual design, tecnologia e arquitetura se unem visando controle e melhor resultado ambiental, ou o primeiro projeto brasileiro realizado via crowdsourcing – iniciativa privada que coube ao arquiteto Arthur Casas dar forma, alimentado por mais de quatro mil ideias colhidas no website do projeto.

Arquitetura x Mercado
Arquitetura x Mercado: a N.O.V.A. possui módulos pré-fabricados independentes e pilares metálicos que podem ser reaproveitados no futuro. A construção recupera soluções de baixa tecnologia, presentes na arquitetura vernacular, como o piso suspenso e a ventilação cruzada. Imagem: Divulgação Arthur Casas / Enel Brasil

Arquitetos, no geral, adoram inovação. Estão sempre à procura de novas formas de projetar, e produtos que deem vazão às suas ideias. Mas ao serem impactados com a realidade contemporânea, correm o risco de esbarrarem no próprio modelo de negócios ultrapassado, que ainda considera a equação tempo versus dinheiro, passível às turbulências e humores do mercado. É hora de empreender, repensar processos e modelos, e aceitar o mundo da economia criativa. É preciso, mas ainda impreciso.

Arquitetura x Mercado
Arquitetura x Mercado: projeto do GCP Arquitetos para o hotel Votu, na Bahia, que utiliza a Biomimética, prática pela qual a natureza é a mentora de uma criação ou solução. Imagem: Divulgação GCP
Arquitetura x Mercado
Arquitetura x Mercado: os bangalôs serão implantados ligeiramente acima do solo, com lâminas sombreando os interiores, e com entrada e saída de ar similares ao que ocorre no habitat do cão da pradaria. Imagem: Divulgação GCP
Arquitetura x Mercado
Arquitetura x Mercado: a fachada neste projeto do SUBdv, desenhada e testada com software de parametrização, permite filtro controlado de raios solares diretos e evita a penetração do ar quente, com ventilação natural cruzada e um efeito de luz e sombra. Foto: Rodrigo Chust.
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Fernando Mungioli
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Fernando Mungioli é proprietário e Publisher da Arco Editorial, editora especializada em arquitetura e...

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